Mestre
04 de março de 2010.
Potengi (Sítio Sassaré, quase 5 quilômetros da sede). Região do Cariri.
21 de setembro de 1957
A partir de Potengi, a Estrada dos Barreiros nos leva a uma casa simples de terreiro de barro bem varrido e um quintal com muitos pés de Jurema, que resistem ressequidos à falta de chuva. No girau interno da casa, Antônio Luiz guarda todas as armações dos personagens, os trajes, os bonés e as máscaras do grupo. O que mais chama a atenção é a beleza e a criatividade das mascaras de madeira, pintadas e adornadas com pelos de animais, que transformam os brincantes logo que são colocadas no rosto. Homens transfiguram-se nas entidades contidas nas máscaras que amedrontam crianças e encantam os expectadores do reisado. Do fogão à lenha da cozinha saiu um carneiro guisado pela sua mulher que nutriu nosso corpo posto que a alma estava alimentada pelas histórias e pela gentileza do mestre.
“No reisado, se a gente fazia uma promessa para os Santos Reis do Oriente, se fosse valido, aí enquanto fosse vivo, tinha de manter aquela cultura viva.”
Meu nome é Antônio Luiz de Souza. Nasci e me criei aqui no município de Potengi. Esse reisado de caretas nasceu aqui no município, em 1930. Era do meu avô. Quando meu avô faleceu, o reisado passou para um sítio aqui, o sítio Barreiros. Do sítio Barreiros passou para um senhor por nome Raimundo Maximiliano. Nessa época eu tinha doze anos de idade… Foi na era de 1960, mais ou menos.
Depois que seu Raimundo Maximiliano faleceu, outro senhor, conhecido por Raimundo Sousa, fez nascer um reisado aqui no sítio Melosa. Eu tenho um irmão, com 65 anos, que participou desse reisado.
Pequeno eu já gostava de reisado e, na época, os rapazes não queriam que as crianças andassem junto com grupo. Mas sempre eu ficava pedindo para acompanhar eles. Até que um tempo eu disse: se um dia eu chegar a crescer, eu ainda vou ser dono de um reisado.
O tempo passou… vem passando de lá para cá… o reisado da Melosa acabou-se e apareceu um reisado em Potengi. Eu já tava com idade de 29 anos.
Nessa época eu conheci um rapaz por nome de Chagas e ele me chamou pra brincar. Eu decidi: vou brincar! Só que eu estava empregado nas casas populares e não podia ir tirar esmola. Só ia no dia do reisado. E assim a gente construiu o reisado. Fiquei brincando com ele até Chagas dizer que ia embora para Porto Velho e perguntar se eu queria as coisas do reisado. Ele cobrou quinhentos contos. Minha mãe, que tinha uma banca na feira, me ajudou e eu comprei as figuras. No meu reisado tem caboclo, tem o boi, a burrinha, ema, carneiro, cavalo… Mas só que naquela época a gente não tinha esse traje de hoje. O traje que a gente brinca hoje, a gente não tinha… Quem podia comprar, comprava. Quem não podia, brincava lá de qualquer jeito. O importante era usar a máscara.
Quem brinca esse reisado que eu brinco, se a gente fazia uma promessa para os Santos Reis do Oriente, se fosse valido, aí enquanto fosse vivo, tinha de manter aquela cultura viva. Fazer o reisado. Aí tirava as esmolas! No último dia, que é dia 06 de janeiro, tinha levantamento da bandeira, fazia a festa dos caretas, fazia forró!
Eu fui reconhecido Mestre em Limoeiro do Norte. Isso foi uma novidade aqui para o município. Depois que eu fui reconhecido mudou muito! Já fui para a Paraíba, Crato – a cidade que mais me apresentei, Fortaleza, Salitre, Araripe. Já sou conhecido até em Cuba, pelo filme “Romance Terra e Água”, de Jean-Pierre Duret. E o que sinto é que se eu chegar a morrer hoje vou deixar um nome dentro da cidade.
Mas, depois que eu passei a ser reconhecido Mestre da Cultura, eu deixei de tirar esmola e fiquei brincando só uma vez: todo dia 06 de janeiro. Eu tiro do salário que eu ganho prá fazer a festa porque eu ganho um salário. E deixei de tirar esmola porque as pessoas chamavam a gente de vagabundo. E daí a gente vem até agora.
Eu tô batalhando para passar essa tradição para os mais jovens. Mas até agora não tem como, porque uns querem, outros não querem. Tem uns novos que estão brincando comigo, são estudantes. Quando a gente vai fazer uma apresentação tem de saber o dia que eles podem ir, porque são estudantes. É difícil. Não é fácil!
Existem vários tipos de reisados. Tem o reis de congo. Tem chegança. Tem guerreiro. O meu reisado, é totalmente diferente dos que eu conheço. Já fiz apresentação no Encontro Mestres do Mundo com Mestre Aldenir, Mestre Zé Pedro, Reisado dos Irmãos. Conheço eles todos. O reisado deles, é chamado… é por peça. Por exemplo: eles têm boi, burrinha, jaraguá, os caboclos, tem os guerreiros que toca espada. As figuras estão todas juntas, dançando. Eles tocam espadas de ferro.
Mas no meu as figuras vão saindo de uma em uma: sai o boi; depois do boi sai a burrinha; depois da burrinha sai o cavalo; depois do cavalo sai a ema; depois da ema tem o carneiro e depois – pra terminar – tem o véio e a véia que é como se fosse uma família. O véi é o pai e a véia é a mãe. E a nossa espada é de madeira, é de pau. A música é xote, baião e valsa, do tempo de Luiz Gonzaga, mais ou menos. E tem também as mascaras que a gente usa para esconder a face, o rosto. A máscara é de madeira, de cumaru, por exemplo, conhecido também, como mulungu. O boné é de papelão, imitando o boné do Mateu. Na época do inverno a gente não brinca. Porque se gente brincar e acontecer de levar chuva o boné, que é de papelão vai indo e se acaba. Mas a máscara ela pode levar chuva. Tem mascara que está dentro de 31 anos de idade, que foi feita.
No estilo desse meu reisado só existe aqui na cidade de Potengi.
99th Keliling street, Pekanbaru
62+5200-1500-250
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