Mestre
04 de março de 2010.
Assaré - Região do Cariri.
23 de outubro de 1925
08 de junho de 2018
Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.
“Música é aquela que o sujeito sente, toca e faz você sentir ela no coração.”
Vou me apresentar. Eu me chamo Francisco Paes de Castro, vulgo Chico Paes. Sou mestre da cultura. Eu comecei a aprender a tocar, na sanfona de meu pai, com oito anos de idade, quando eu ainda morava sitio Riacho do Felipe – município de Tarrafas, antes era município de Assaré, que nesse tempo ainda não era cidade de Tarrafas. Eu tocava quando meu pai ia para a roça
Eu tinha medo de ele brigar comigo, porque eu era muito pequeno e podia dá uma queda na sanfona e quebrar. Um dia ele me viu tocando e disse que era pra eu aprender mesmo! Pode tocar a vontade! E eu disse para mim mesmo: agora eu mato a minha vontade!
Com 9-10 anos eu acompanhava ele nas festas. Meu pai era o tocador afamado que tinha na região. Ele tocou quase 50 anos a sanfona de oito baixos. Só em forró! Na idade de 13 anos, eu já tocava mas não tinha acordeon. Aí comprei uma oito baixos e comecei a tocar e meu pai liberou. E comecei a tocar em festa. Aí toquei quase vinte anos a oito baixo, forró.
Tocava só, sem instrumento, sem acompanhamento. Depois apareceu um zabumba, um pandeiro. Meu irmão me acompanhava. Todos os meus irmãos aprenderam a tocar. Mas o maestro era eu. Eu não ensinei. Isso aqui ninguém ensina, não! Só se Deus der o dom.
Comecei a tocar sanfona de sete ritos, acordeom. Acordeom toquei 50 anos, justinho. Só em forró. Toquei no Piauí, Pernambuco. De Fortaleza pra cá, nestas cidades do interior, eu tocava muito: Acopiara, Senador Pompeu, Iguatu, Jucas, Carius. Passei pra os Inhamuns: Saboeiro, Arneirós, Tauá, Aiuaba, toquei muito. E os chefes políticos gostavam muito que eu tocasse.
Minha primeira festa foi em Altaneira. As festas eram nos lampiões de garrafa, cheia de querosene. O pavio muitas vezes se apagava e o povo ficava dançando tudo no escuro. Aí botava mais gás no lampião e começava a tocar de novo.
Neste tempo também havia muita festa de dia. Eu saía de casa, chegava lá em dia de missa, estava o salão preparado, pra eu tocar de dia, porque de noite não tinha energia. O povo aproveitava e dançava o dia todim.
Muitas vezes botavam pimenta no salão – pimenta malagueta e não tinha quem aguentasse. Precisava lavar todinho o salão pra poder aguentar a dançar. Era muita gente despeitada com namorado, com isso e aquilo e levava a pimenta e botava para acabar a festa. O salão era no barro. Não tinha cimento neste tempo não. Botava água, lavava, botava água e acabava o cheiro da pimenta. Era gente espirando para todo o canto.
Uma vez eu toquei numa festa que durou três dias. De dia eu dormia e quando era de tardizinha eu acordava, tomava banho, jantava e aí começava de novo. Quando era um casamento eles faziam a véspera e a antevéspera. Tinha o forró, tinha cachaça, cerveja e a galinha morrendo e o sujeito comendo frango assado. E na última noite, eu tocava até de manhazinha. O cabra chamava para tocar nos forró mas a gente não chamava forró. Era samba. Todo mundo ia pro samba.
Tem uns forrós de hoje que eu não acho vantagem, não! É uma música sem sentimento. Ninguém sente nada por essa música, sem tom, fora do ritmo. Pros jovens de hoje, é muito bonito, porque nunca viram música, não sabem o que é bom, uma música perfeita, uma música bem solada, cantada. Música é aquela que o sujeito sente, toca e faz você sentir ela no coração.
Em 1978, eu passei quase um ano em São Paulo. Lá eu fiz umas poucas de músicas. Fazia e anotava o nome. Mas não tinha gravadora neste tempo, a gravação era difícil. Era só para quem soubesse cantar. Não deu certo gravar. Depois, com a oportunidade do Gilmar de Carvalho, que se interessou e se encarregou de fazer meu CD, o mundo abriu pra mim. Chegaram as coisas que eram para chegar antes, quando eu mais novo, com mais ideia, com mais inteligência, com mais ouvido. Mas ainda me alcançou muito bem, com idade boa.
Tocar a oito baixo e tocar sanfona, tem diferença grande. A sanfona de oito baixos faz um tom quando abre e fechando é outro tom. O traquejo da música na oito baixos é o fole. Os dedos são só para corresponder. E a sanfona, não. É o mesmo tom tanto abrindo quanto fechando. É um tom só. A escala é mais extensa. O sujeito faz uma música de baixo até em cima. Tanto faz tocar os botões de baixo quanto os de cima, é tudo uma coisa só. É mais fácil.
Eu prefiro tocar a oito baixos. Porque aprendi tocar nela. Papai tocava oito baixos em forró e eu ajudava ele. Aí fiquei tocando harmônica, sanfona, acordeom, toquei muito forró. Quando diziam: Chico Paes vem hoje pra tocar, o povo se animava tudo!
Eu devo ter sido escolhido mestre porque eu, naturalmente, toco mais do que os outros. Eu fui receber meu diploma em Limoeiro do Norte e eu tenho ele guardado. Quando eu recebi esse diploma eu fiquei muito satisfeito, muito contente por eu ter esse merecimento. Eu não esperava. Depois do diploma eu venho tocando. Já toquei em São Paulo, um show lá no Ibirapuera. Dois shows, na verdade.
Tocar pra mim são duas coisas. Tem o meu sustento, ganhar meu dinheiro. E tem o prazer de tocar. Muitas vezes eu durmo e sonho fazendo uma música e no outro dia eu ponho na sanfona.
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