Mestra
24 de setembro de 2007
Juazeiro do Norte – Região do Cariri.
01 de outubro de 1943.
Para entrevistar a Mestra Maria do Horto foi preciso recorrer a Romão, que trabalha na Secretaria da Cultura do Município de Juazeiro do Norte. Ele informou que a Mestra passa quase todos os dias na Secretaria quando desce do Horto. Dona Maria não tem telefone e embora tenha endereço fixo – ela mora na colina do Horto, a 3 quilômetros do centro da cidade, numa construção de dois cômodos sem energia elétrica – quase não para em casa. Maria do Horto caminha pelas ruas de Juazeiro numa romaria particular e diária.
Nossa conversa aconteceu no Memorial Padre Cícero ao lado da Igreja de Socorro onde ela costuma assistir missas. Lugares muitos conhecidos que fazem parte da sua rotina e da sua história. A mestra tem pensamento rápido. Por vezes as palavras não acompanham o raciocínio e frases merecem entendimento pelas entrelinhas.
Ele devaneia, voa alto, vagueia por ideias, recordações das romarias e das caminhadas em vários santuários no Brasil. Afirma e reafirma sua devoção a Padre Cícero e o amor incondicional por Juazeiro do Norte, seu destino de vida. No entanto, o que ela mais quis fazer e, de fato fez com todo o gosto, foi cantar benditos antigos e outros de sua autoria.
Eu subi terra de fogo, com alpargarta de algodão. As alpargartas se queimaram eu desci com pé no chão. Desci na ponta da nuvem por um estralo de um trovão. Pisei em terra firme, com dois crucifixos na mão. De um lado São Cosme e do outro São Damião. Em prece acode o cruzeiro da virgem da Conceição.
“Toda vida meu destino era morar em Juazeiro.”
Eu sou Maria… Meu nome é Maria José Ignácio. Mas me chamam de Maria do Horto depois que eu peguei a cantar esses benditos e porque eu moro no Horto. Mas eu também tenho vaquejada, pé de serra. Sou devota de Meu Padrinho e Nossa Mãe Virgem. Eu sou Mestre da Cultura, fui contemplada e gosto muito. Pra mim é um prazer muito grande na vida. Eu e todos os Mestres da Cultura.
Eu nasci em Sergipe, Pacatuba, Estiva do Raposo. Antes deu vim morar em Juazeiro a gente caminhava de romaria desde de 15 anos, já caminhava há muitos anos. Passei 35 anos. Vinha de caminhão pra Juazeiro. Dormia duas vezes nas estradas. Era muita gente. Juazeiro era tão pequena…
Depois que a minha morreu foi que eu fui pra São Paulo. Gostei de São Paulo. Mas eu vinha pra Juazeiro todo ano: Dia de Todos os Santos, Dia de Finados eu tava aqui. E lá em São Paulo a gente andava em romaria… Caminhava duas vezes por ano para Pirapora, de pé. De pé! Saia duas horas de Santo Amaro caminhava a noite toda e no outro dia, às 9h, tava chegando. Era em abril e em agosto. Era muita gente.
Em 1987 eu vim de São Paulo rumo daqui, vim morar de vez mesmo. Eu vim só e fiquei. Sempre morei no Horto. Porque toda vida meu destino era morar em Juazeiro. Nem em São Paulo, nem em Sergipe mesmo…Eu gostava muito daqui. E ainda hoje eu gosto. Eu moro só e Deus!
A gente cantava muito bendito, vinha cantando nas viagens. Benditos velhos, antigos. Eu sabia muitos. Nos caminhões, se vinha em perigo na Estrada, a gente cantava: Bendito e louvado seja a luz que mais alumeia / Bendito e louvado seja a luz que mais alumeia / Valei-me meu Padrinho Ciço e a mãe de Deus das Candeias / Valei-me meu Padrinho Ciço e a mãe de Deus das Candeias / ôh que caminho tão longe com tanta pedra e areia / ôh que caminho tão longe com tanta pedra e areia / Valei-me meu Padrinho Ciço e a mãe de Deus das Candeias.
Eu comecei a criar os meus benditos depois dessa cultura dos mestres. Eu canto assim – que eu não sei nem bem ler, né?! – se eu sei uma história de Meu Padrinho eu digo, é que nem essas mensagens de Nossa Senhora, é uma tradição.
Quando eu fui prá Fortaleza, uma vez, eu disse: lá no Juazeiro não precisa ensinar não. Porque os meninos do Horto eles já são ensinado: tem renovação… Já são ensinado.
E eu fiz o bendito, que é da minha autoria: O nascimento de meu Padrinho Ciço neste mundo.
Acorda, acorda Quinô, vejo uma voz lhe chamando / Acorda, acorda Quinô / vejo uma voz lhe chamando
É o meu Padrinho Ciço, neste mundo vem chegando / É o meu Padrinho Ciço / neste mundo vem chegando
Acorda, acorda Quinô, vem cuidar deste menino / Acorda, acorda Quinô / vem cuidar deste menino
Que ele veio do alto, mandado pelo Divino / Que ele veio do alto / mandado pelo Divino
Ele já veio ensinado, não precisava de escola / ele já veio ensinado, não precisava de escolar
A professora de Ciço quem era Nossa Senhora / a professora de Ciço quem era Nossa Senhora
Em Roma tinha porta que padre nenhum abria / Em Roma tinha porta que padre nenhum abria /
E lá tinha um segredo que só meu Padrinho sabia / E lá tinha um segredo que só meu Padrinho sabia /
Quando bate a meia noite todos os sinos tocavam / Quando bate a meia noite todos os sinos tocavam
A hora que o pai eterno a santa missa pregava / A hora que o pai eterno a santa missa pregava
Na terra ele é um jardim, lá no céu é uma rosa / Na terra é era um jardim, lá no céu é uma rosa /
Só ele tinha o mistério daquela porta / Só ele tinha o mistério daquela porta / Quando ele abriu aquela porta toda cercada de luz / Quando ele abriu aquela porta toda cercada de luz
Estava Nossa Senhora e o Coração de Jesus / Estava Nossa Senhora e o Coração de Jesus
Aquele livro que ele trazia em vossas mãos / Aquele livro que ele trazia em vossas mãos
Era mostrando pra o mundo o caminho da salvação / Era mostrando pra o mundo o caminho da salvação
Acorda, acorda Quinô / vem cuidar deste menino / que ele veio do alto / mandado pelo Divino.
Quando eu canto os benditos fico com muita alegria, muita satisfação. Se pudesse vivia cantando.
99th Keliling street, Pekanbaru
62+5200-1500-250
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