Mestra
24 de setembro de 2007
Canindé. Região do Sertão Central
06 de janeiro de 1946
Contribuir com o reconhecimento da capacidade curativa da natureza tem sido o objetivo maior de Dona Odete . Para isso ela já escreveu livro, mantém um programa de rádio há mais de duas décadas e percorre lugares com o intuito de fazer cursos para aprimorar conhecimentos, e repassar para quem ousa acreditar em mais esse saber popular. Em Canindé, nós tivemos o privilégio de conhecer o laboratório onde a Mestra produz remédios oriundos do saber adquirido ao longo de sua experiência prática e de teorias que vem aprimorando. Dona Odete foi iniciada em tal cultura por suas antepassadas – avó e mãe – ainda na adolescência, e de lá pra cá já testemunhou muitas pessoas serem curadas e aliviadas de doenças graves por confiarem na medicina popular.
Eu subi terra de fogo, com alpargarta de algodão. As alpargartas se queimaram eu desci com pé no chão. Desci na ponta da nuvem por um estralo de um trovão. Pisei em terra firme, com dois crucifixos na mão. De um lado São Cosme e do outro São Damião. Em prece acode o cruzeiro da virgem da Conceição.
“Não me interessa o nome das pessoas. Me interessa que elas fiquem curadas.”
Eu me chamo Maria Odete Martins Uchoa. Canideense, nascida no interior de Canindé, em São Serafim. Filha de Manoel Uchoa Neto e Julieta Martins Uchoa. Eu tive uma trajetória de vida sempre ligada aos costumes da nossa igreja católica. Desde criança ensinava o catecismo às crianças menores e, na juventude, fui me graduando e assumindo pastorais. Também trabalhei no Sindicato dos Trabalhadores Rurais e em muitas entidades filantrópicas. Sempre tive o desejo de conhecimento sobre as plantas medicinais, porque minha avó paterna era filha de índio, dos índios Kanindés, de onde veio o nome Canindé – a cidade recebeu o nome dessa tribo indígena, Kanindé, com “K”. Acho que eu puxei muito essa história dos índios. Bem, por causa desse meu desejo de aumentar os conhecimentos sobre as plantas medicinais eu procurei saber muito sobre isso, dentro desse Brasil e fora daqui. Viajei bastante. Não existia, nessa época, na década de sessenta, não tinha livros, nem revistas desse assunto, que hoje tem bastante. Eu ia sempre pelo que o povo já sabia. Aonde eu viajava – Pará, Maranhão, Piauí, São Paulo e por aí afora… Amazonas, as ilhas… ilha de Marajó, ilha Ponta de Pedras – tudo no Pará… conversava com os índios em busca de mais informação sobre as plantas medicinais. Porque já nasceu comigo esse desejo e, por isso, eu estou perseguindo ainda. Depois consegui fazer muitos cursos, graças a Deus, porque agora existem vários. Eu já fiz vários cursos, até em São Paulo. E hoje tem ainda televisão, internet, encontros.. Tudo para melhor atender à população e procurar curar problemas sérios de saúde. Nunca consegui foi fazer a faculdade tão desejada. Eu queria ter sido uma médica das plantas medicinais. Por eu não ter esse curso de faculdade fui até perseguida. Mas eu continuo com os trabalhos alternativos. Continuo trabalhando com o saber popular. E agora esse saber está registrado, apoiado, confirmado pelos que cursaram a faculdade.
Aqui em Canindé como em tantos outros lugares onde eu já estive, outras cidades, outros estados e até mesmo outros países como no Timor Leste, que eu fui, essa medicina que vem da natureza é uma coisa que já é do povo. Todo mundo quer aprender mais e saber mais da medicina natural, dessa medicina tradicional. Medicina popular. Aqui em Canindé eu tenho um programa de rádio, 23 anos de programa no rádio, sobre as plantas medicinais e tem muita receptividade.
Em 2007 eu fui eleita Mestra da Cultura do Estado Ceará, por causa desse meu trabalho. Essa cultura nossa, minha, é a das plantas medicinais. Uma cultura que é mais conhecida como medicina caseira.
Para mim, ser mestra é ser conhecedora da história, da causa e manejar esse assunto com segurança. Então é por isso que eu sempre procuro aumentar e melhorar meus conhecimentos, porque a gente não pode só gostar e achar bonito, mas tem que realmente dá conta do assunto.
Quando eu fui diplomada e intitulada Mestra da Cultura foi uma alegria muito grande para mim, mas no mesmo instante, muitas responsabilidades pesaram sobre as minhas costas, porque é necessário ter a responsabilidade pelo o que se está assumindo. E a palavra Mestra não é coisa pouca não. É muita responsabilidade, muito trabalho e é com isso que eu me preocupo.
Então, dentro desse trabalho, dessa caminhada, eu procuro sempre repassar os conhecimentos sobre esse assunto para os que desejam e sou até bastante cobrada pelas pessoas. Faço isso nas escolas, aqui e em outras cidades, nas igrejas, grupos de base, através de cartilhas, palestras, até na faculdade, além do programa de rádio. Já fui em programa de tv, como o Ceará Caboclo. Estou sempre sendo procurada para isto, sou sempre convidada a dar palestras em diversos níveis.
Só para dar um exemplo dessa medicina. Temos o aveloz, que tem mais de um nome popular que são meio esquisitos. Uns chamam de cachorro pelado. Outros chamam de dedo do cão e escadinha. Mas o nome científico é Aveloz. É um antibiótico em alto grau que está sendo utilizado até em hospitais para cuidar de pessoas com câncer. É uma planta muito comum no Nordeste do Brasil. Tem propriedades anticancerígenas. É antiasmática, antiespasmódica, antibiótica, antibacteriana, antivirótica, fungicida e expectorante. É também purgativa e também antissifilítica. Serve para a Sífilis. É indicado no tratamento de tumores cancerosos, pré-cancerosos. Ele tira também as dores. Na prevenção, basta uma colher diariamente. No caso de câncer é tomar uma colher três vezes ao dia até se curar. Pode botar no suco, pode botar no leite, numa água. Pra isso também a gente tem que recomendar uma alimentação… evitar carnes, refrigerantes, açúcar, frituras e etc. Comer mais fibras, frutas e verduras. Este aveloz é bem semelhante a outro que é bastante conhecido daqui da região, que é a Janaguba, o leite da Janaguba. Só que está sendo muito mais usado que a janaguba, agora.
Temos também o cajueiro roxo, ameixa, raiz da chanana, artemisa, cajiru e o carvão vegetal ativado que é uma composição excelente. Já curou várias pessoas. Eu não preciso nem dizer o que é a tintura de cajueiro, nesses municípios vizinhos, porque eles já chegam procurando essa tintura. Homens, para problemas de próstata, rins, bexiga, coluna, garganta e as mulheres , para doenças das mulheres mesmo. Já curou problemas de quistos, miomas, nódulo nos seios.
Uma coisa que eu nunca fiz foi anotar o nome e o endereço das pessoas que ficam curadas, como às vezes me pedem e perguntam para terem certeza que essa medicina funciona. Por que eu não faço isso? Porque não me interessa o nome das pessoas. Me interessa que elas fiquem curadas.
Eu, hoje em dia, quase não encontro pessoas descrentes nas plantas medicinais. Em muitos lugares, as pessoas estão é querendo saber mais, cada vez mais. Esse programa de rádio aqui em Canindé, por exemplo, por causa dele eu já fui convidada para ir a Baturité, a Pacatuba, Aratuba, onde tem rádio, para que eu criar um programa parecido nesses locais… Aonde a rádio, as ondas de rádio daqui pegam, em outros municípios, eles ficam felizes porque estão acompanhando. Então eu tenho uma responsabilidade que é reforçar o desejo do povo. Levar mais conhecimento. Descobrir cada vez mais, estudar, pesquisar para dar a resposta certa para o que eles querem saber. Eu não posso dar uma resposta qualquer.
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