Mestra
24 de setembro de 2007
Beberibe (Sítio Umburanas). Região do Litoral Leste
07 de junho de 1941
A alvura da areia fina e fofa da comundade de Umburanas, um sítio no meio do imenso município de Beberibe, é berço e morada da Mestra Terezinha desde sempre. Nossa conversa aconteceu na varanda que um dia foi casa de farinha, de Dona Umbelina, uma das dramista de seu grupo. A Mestra se diz cansada mas quando começa a representar, a cantar e dançar, ganha o ânimo de suas personagens, seja a cigana, a baiana ou o Janjão, quando se veste de homem e fala mais grosso. Com um sorriso tímido, quando indagada se reconhece atriz, mas atriz de drama!
Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.
“Pra mim é uma das melhores coisas que eu faço é dançar drama.”
Terezinha Lima dos Santos é o meu nome. Sou aqui de Umburanas, município de Beberibe. Comecei a apresentar drama aos sete anos de idade. No colégio onde eu estudava minha professora era dramista. O nome dela era Raimunda Sena Lima e ela foi quem me ensinou os dramas. Daí eu comecei.
Ensaiava os dramas com ela e aprendi todas as partes, apresentava. e depois no decorrer dos tempos ela foi embora e eu já estava moça aí fiquei com minhas amigas e minhas sobrinhas. A gente se juntava e fazia a noite cultural do drama. Nesse tempo não tinha ajuda de ninguém. A gente apresentava o drama e fazia um circo, arrecadava dinheiro pra comprar os trajes do drama. E depois o meu irmão fazia um forró, com sanfona e tirava bastante dinheiro. E a gente tirava aquelas despesas e o resto partia com as dramistas.
Então eu me casei e a gente parou tudo. Não fiz mais drama. Mas depois de muito tempo, uns sessenta anos, o Evandro Vieira teve essa ideia de voltar os dramas. E queria que eu dissesse como era, como tinha começado. Ele pelejou muito e eu nem tinha muita vontade, porque eu achava que depois de eu velha não fazia mais nada. Mas, graças a Deus, eu enfrentei e a gente ficou fazendo os dramas muito bonito, muito grande… É importante fazer o drama porque alegra demais a comunidade. É porque é uma festa que a gente gosta, pelo menos eu gosto de fazer drama, me sinto bem fazendo.
Pra fazer o drama a gente reúne as moças. Tem as partes copiadas no livro. Aí a gente tira as partes livro e você escolhe um trecho para cada uma delas estudar. Quando elas aprendem a gente convoca os ensaios, com o tocador. Nos ensaios elas vão cantar, dançar. E eu vou ensinar, dizer como é.
O drama tem comédia, tem estória. Tem partes que é igual a uma novela, de casal, de namoro, tudo isso tem. Tem também as partes de bailado, muita baiana, muita cigana. Tem parte de rapaz com moça, de casal, de velho que casa. De negrinhos, muitos negrinhos de Angola, muito bonito. Inclusive quem fez foi meus dois netos e uma neta foi quem representaram. Tem a parte do bêbado, que é a Umbelina quem faz. No tempo que eu apresentava, que eu era moça, ela era pequena não fazia com ela. Mas agora ela é quem faz o bêbado. Tem uma comédia de matutos que vem lá do sertão e vão conversar sobre o casamento de uma filha, depois os matutos vão cantar um coco. Tudo é muito bonito. É uma brincadeira que a gente faz.
Essas histórias que a gente conta são antigas. Já temos copiadas daquelas antigas pessoas que passaram pra gente. Agora é verdade que, às vezes, a gente compõe uma parte das histórias. A gente ajeita, compõe outros versos.
Quando a gente convoca um drama, agora, as pessoas não estão disponíveis. Antigamente era muito fácil. De primeiro não tinha televisão, não tinha nada… então o drama era uma noitada de festa. E todo mundo se sentia feliz. Hoje em dia as moças não querem mais saber de drama, principalmente essas mocinhas novas, não tem uma que queira. A gente só convoca as mais velhas, que já tem entendimento. Drama é uma coisa que se aprende, mas as pessoas que já estão acostumadas, tem o jeito, tem o balançado… Às vezes não é todo mundo que aprende.
Mesmo assim hoje tem muita gente fazendo o drama. Não daqui da Umburana porque o drama daqui não tinha quase personagem devido as mocinhas de hoje que não querem saber de drama. Aí só eram as mais velhas. Eu, Alice, a Umbelina – no meu grupo só tem mulher. A gente já está muito cansada, não dá para fazer a coisa bonita do jeito de quando era nova. Mas tem umas meninas aqui na comunidade vizinha, no Pau Branco, e lá tem um bocado de moça, mulher casada também. Mas elas são muito dispostas. Elas gostam de cantar, elas gostam de fazer drama. São umas pessoas excelentes. Então Evandro passou o drama daqui para lá, junta as comunidades e faz um drama só. E assim tem muitas pessoas.
No drama tem parte que é igualmente um teatro. Porque tem parte que é falada e outras, às vezes, é dançada, quase um teatro. Posso dizer que sou uma atriz, de drama! Quando eu tava dançando eu me sentia muito feliz. Pra mim é uma das melhores coisas que eu faço é dançar drama.
Pra fazer o drama não tem data certa. Faz no no dia que der certo, que arranjar as pessoas pra ajudar. Pra ensinar pode ser na casa da gente e às vezes vai lá pro grupo, pra Casa das Dramistas. Existe a casa que é um ponto de cultura. A gente ensaia muito lá quando é tempo de drama.
O que eu entendo por ser mestre é ensinar, ter muita participação nos dramas, ensinar, ajeitar. Quando eu fui diplomada me senti muito feliz porque eu não esperava ganhar esse título depois de eu velha, achava que isso não ia acontecer. O que eu vou deixar na minha comunidade é a lembrança do que eu fiz. Vou deixar o ensinamento pra minhas netas e pro pessoal que não sabia fazer drama. E hoje em dia muita gente já sabe.
Hoje eu sou mestra e faz diferença porque já tenho mais o apoio das pessoas quando é pra apresentar o drama. Tem o título, já é mestre. Pode já ensinar, enfrentar.
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