Mestra
16 de maio de 2005
Guaramiranga – Região do Maciço de Baturité
02 de abril de 1927
Um jardim bem cuidado repleto de flores e rosas enfeitam a entrada da casa da Mestra no centro da cidade de Guaramiranga. O clima frio, que a Mestra diz adorar, contribui para deixar o jardim mais colorido. Mestra Zilda trouxe os enfeites dos dramas e demonstrou qual o acessório para cada parte das encenações musicais: o chepéu da florista, a estrela, a lua e o sol da camponesa, a faixa da Princesa Formosa. Disse também que está meio esquecida mas, mesmo assim, cantou várias estrofes das músicas que execuam nos dramas e que ainda representa. Um sorriso tímido ressalta-se quando ela admite que quando está se apresentando é uma atriz.
Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.
“O drama é o verdadeiro teatro.”
O meu nome é Zilda Eduardo do Nascimento. Eu sou dramista. Sou mestra da cultura e moro em Guaramiranga.
Eu comecei a fazer os dramas em 1943. Eu tinha 14 anos quando comecei a fazer os dramas. Nós éramos sete irmãs e a gente queria brincar e inventamos. A gente não sabia nem o que era drama. Mas a minha professora ela fazia uns dramas pra gente e foi com ela que eu vi o drama pela primeira vez.
Minha irmã inventou alguns dramas. Ela passou uns tempos no colégio e aprendeu com as irmãs de caridade. Quando chegou em casa foi ela quem chamou: vamos fazer drama?! Começou a ensinar a gente. Depois a minha sogra e minha patroa me ensinaram alguns dramas também. Foi aumentando os dramas. E quando eu já estava mais sabida eu comecei a criar também. Às vezes eram uns dramas curtinhos e eu botava mais versinhos para ficar mais comprido. Como eu criei as mentirinhas… e em quase todos os dramas tem uns versinhos que eu criei pra aumentar mais o tempo.
Foi assim… Eu aprendia com uma e com outra pessoa, minha irmã aprendia com outros e assim a gente aprendeu e criou muitos dramas. Mas os nossos dramas eram feitos no chão. Não tinha palco. Era assim como brincadeira de roda.
Fizemos muitas vezes assim no chão e ficamos continuando fazendo e era bem movimentado. O pessoal gostava muito. Era a diversão que tinha na época. Depois eu me casei e parei uns tempos. Depois eu fiquei continuando. Minhas irmãs também se casaram todas e nenhuma quis continuar. Já casada, meu marido botava umas tábuas de caixa de sabão e montava aquele palco pra gente brincar e se apresentar. A iluminagem era lamparina ou farol. Os enfeites eram galhos de matos, de papoula. Era assim que a gente fazia porque não tinha outro enfeite. Os trajes eram papel crepom, papel de seda…
O drama conta histórias. São umas historinhas cantadas e eu acho que seja uma diversão. Quando eu aprendi já era com a melodia e eu acho que quando eu nasci já existia drama. Eu criei muitos. São 86 dramas que eu tenho… Eu digo que criei porque eu aumentava. Eu criava da minha cabeça e dava certo.
E agora eu fiquei muito feliz porque quando eu passei a ser mestra da cultura me disseram que o drama é o verdadeiro teatro e eu fiquei muito empolgada. Eu concordo mas eu não sabia que a gente fazia teatro. Eu nem sabia o que era drama antigamente. Eu fazia assim, por fazer, pra diversão. Eu, hoje, fazendo os dramas, eu me considero uma atriz. Eu já participei também até de teatro.
Antigamente a gente fazia os dramas nos sítios – no final da panha, colheita do café, na época de São João e São Pedro, nos aniversários. Eu fiz drama no Sítio Canabrava, na Linha da Serra, no Sitio de Fora e fazia no Arábia, onde eu morava. De vez em quando eu fazia um drama.
Depois que eu passei a ser mestra nós ficamos mais valorizadas. Porque antes o drama não tinha valor. A gente fazia drama sem nem saber direito o que era. Agora ficou mais valorizado. E outra coisa que eu também fiquei muito feliz porque a gente ganha um dinheirinho. Ser a mestra é ensinar para os outros, participar e também representar.
O pessoal da cultura também me falou que eu tinha de ensinar os dramas. Fiquei com essa obrigação. E eu saia daqui e ia ensinar dramas na Linha da Serra, no Pernambuquinho… nas escolas, no grupo…Ensinava também aos meninos pequenos, no Educandário que eu tenho os dramazinhos pequenininhos para ensinar meninos de quatro anos até seis anos. E já hoje em dia eu sou muito feliz porque eles já representam no palco os dramas que eu ensinei e eu me orgulho muito por isso porque algum dia, quando eu me for, já tem algumas pessoas que ficam no meu lugar.
Hoje meu grupo são dez pessoas comigo. Agora eu também represento. Porque antes eu não representava, eu só ensinava e agora depois de velha estou representando também. Todas mulheres. Elas se vestem de traje de homens na parte que sai homens ou o casal. Porque homem é difícil… a gente convida os homens mas eles não aceitam. As mulheres têm coragem. Pelo menos as minhas, que participam comigo, são corajosas.
O grupo se apresenta duas ou três vezes por ano. A gente faz sempre na abertura do Festival de Teatro de Guaramiranga e na mostra dos dramas no mês de maio.
99th Keliling street, Pekanbaru
62+5200-1500-250
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