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Mestre

Chico Belo

Francisco Alves de Freitas

Mestre em Artesanato em Couro

Publicação no Diário Oficial do Estado

26 de fevereiro de 2019

Cidade/Residência

Caridade (Região Sertão de Canindé)

Nascimento

7 de novembro de 1948

Relato de Viagem

A visita ao Mestre Chico Belo foi uma sequência de gentileza e delicadeza. O Mestre e sua família muito atenciosos. O amor entre todos da família era evidente, filhos e netos todos muito cuidadosos com o pai, avô e agora, Mestre Chico Belo. A conversa foi na oficina que fica em frente a sua casa no centro de Caridade. Muito pedaço de couro em todos os cantos, utensílios, máquinas, tudo acondicionado na oficina que seria transformada em museu e local de trabalho. A reforma, prometia o filho mais velho, seria eminente. Um café reunindo toda a família foi o momento final do encontro. Momento para falar da repercussão da conquista de novos planos do Mestre cheio de energia, de vida!

(Cantando)

Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão /  Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no  mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no  mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.

Ser Um Mestre É A Pessoa Trabalhar No Seu Serviço E Ter Dedicação A Ele.

O meu nome é Francisco Alves de Freitas, conhecido por Chico Belo. Nasci e me criei na Fazendo Pedra Branca, no município de Caridade. Desde pequeno que eu trabalho com couro mais meu pai, meus tios. Está com 50 anos que eu trabalho no couro.

Venho trabalhando e gostando dos produtos que eu faço. Vendo bem, graças a Deus! E vivo. Sempre deu para manter minha família. Os filhos todos formados, com faculdade. Tudim! Eu e minha esposa trabalhando – ela com emprego do estado e eu ganhando desse trabalho aqui. Ela também ajudava a fazer o trabalho do couro, costurava. E foi assim, trabalhando a vida inteira. E essa tradição é desde o meu bisavô. Ele trabalhava nos couros, na sela. Passou para meu avô, meus tios, meu pai.

Eu aprendi a arte no tempo do meu pai. Desde de eu pequeno que ele trabalhava com sela e eu fiquei trabalhando mais ele. Toda vida eu trabalhei, desde pequeno. Quando ele faleceu, eu fiquei na arte dele. E tinha um tio meu que acabou de me ensinar. Hoje, eu trabalho com facilidade. Qualquer tipo de sela, dos meus tipos de sela, eu faço com facilidade.

Acho bom trabalhar no meu serviço. Eu gosto da minha arte. Toda vida trabalhei e acho bom o trabalho. E ainda hoje gosto de trabalhar. Eu comecei a trabalhar fazendo a sela porque era o que meu pai fazia, eu gostei desse produto e me acostumei. Eu acho mais fácil fazer sela do que fazer outras coisas. Do que fazer arreio, fazer gibão. O calçado – chinela, por exemplo – tem de ter a forma, cortar os modelos diferente. Sela, bem dizer, o modelo é um só. Com o tempo, fui e modifiquei os trabalhos, melhorando a sela. Fiz umas selas enfeitadas. E arranjei fregueses de fora.

Nos tempos antigos era mais difícil as vendas. Tinha muita gente que fazia. A venda era mais fraca. Cansei de sair para vender e voltar com as coisas para casa. Não vendia tudo. Vendia fiado, vendia com cheque. E hoje mudou, o que eu faço, vendo bem. Hoje, eu não estou nem atendendo meus fregueses porque não dá tempo atender tudo que pedem.

Eu compro a sola já curtida, no ponto de fazer o produto. Corto e desenho ela todinha. Tenho os moldes e os desenhos tudim, para cortar e fazer. Faço o produto e vou vender. Tantas eu faça como eu vendo.

E agora estou tentando ensinar. Tem um rapaz que trabalha comigo. Ele faz umas partes. Ele faz os arreios. Eu levo as peças para lá. Ele corta faz o loro, faz o assento, faz o rabicho. Ele costura tudim. Mas a sela mesmo, ele não faz só.

Mas hoje nem todo mundo quer trabalhar nessas artes. Porque tem um pouco de catinga a sola, o couro cru. O pessoal não procura. Eu já chamei as pessoas. Mas não se interessaram. Porque tem de ter o interesse para vim aprender. Só posso ensinar se tiver alguém com bom interesse. E não ensino não é porque eu não queira. É porque ninguém procurou. Já falei com umas pessoas para me ajudar. E não vem. Dizem que fede muito, os couros. E eu não sinto catinga. Tendo o dinheiro da venda, do sustento, não tem catinga de nada.

Eu me senti feliz, quando eu soube do resultado por ter recebido o título de tesouro vivo, dos Mestres da Cultura. É mais uma novidade que a gente recebe e fica satisfeito. Mestre da Cultura! Uma coisa de todo o Ceará! E melhorou até as minhas vendas ser Mestre da Cultura. Eu me senti muito feliz.

Tem pessoas aqui em Caridade que ficaram satisfeitas e eu recebi muito telefonema dando os parabéns. De todo canto. Aqui de Caridade, de Fortaleza, de Canindé. Meus amigos, conhecidos ligaram para mim dando os parabéns de eu ter alcançado ser um Mestre da Cultura. E eu sou o primeiro Mestre da Cultura da Caridade. Eu também recebi uma comenda da Câmara dos Vereadores aqui da cidade. Homenagearam por eu ter alcançado ser um Mestre da Cultura, do município de Caridade.

Para mim ser um mestre é a pessoa trabalhar no seu serviço e ter dedicação a ele. É agradecer a Deus por aquilo que você faz e ter boa vontade de fazer. Fazer com prazer, com gosto. Eu trabalho e acho bom. Trabalho todo dia e acho muito bom meu serviço. Agradeço muito a Deus ter aprendido porque quase não tenho saber. O que me valeu foi essa arte de trabalhar o artesanato de couro.

E enquanto eu tiver com saúde e puder trabalhar, eu trabalho. Eu não tenho intenção de deixar. Tão cedo, não! Eu já estou aposentado mas acho bom trabalhar. Faço é me entreter. Aqui é meu divertimento. É um trabalho e uma diversão. E a gente tem de fazer as coisas com amor.