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Mestre

Chico

Francisco das Chagas da Costa

Mestre em Bumba Meu Boi

Publicação no Diário Oficial do Estado

16 de maio de 2005.

Cidade/Residência

Limoeiro do Norte (Sítio Faceira) - Região Vale do Jaguaribe.

Nascimento

20 de maio de 1959.

Relato de Viagem

No teste de som da gravação o Mestre já nos disse do que gosta. Ao ser perguntado qual o time que torcia ele disparou: Eu não gosto de futebol. Só gosto de cultura. A Faceira que tem este nome, segundo o Mestre, por causa das indias faceiras que habitavam o território de outrora, é um sertão de tradição com ares dos novos tempos: muitas motos e muito forró eletrônico. Ali encontramos o Mestre em sua casa-oficina, do boi e de motos. Fomos recebidos pelo grupo e logo uma plateia de parentes e crianças do sítio se arrumou em bancos de madeira e cadeiras de plástico, para assistir a conversa e a apresentação. Mestre Chico, de um corpo esguio, olhar longínquo e respostas curtas, comandou a brincadeira em seu momento de felicidade e satisfação.

(Cantando)

Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão /  Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no  mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no  mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.

Eu não gosto de futebol. Só gosto de cultura. Eu gosto de cantoria, boi e reisado.

Meu nome é Francisco das Chagas da Costa. Sou da Faceira. Conhecido como Mestre Chico. Sou de Limoeiro do Norte.

Essa história do boi a gente começou ainda menino. O boi foi do meu pai, depois do meu tio, João Vicente. E vem passando de tradição pra tradição. E eles foram morrendo e a gente foi ficando para não acabar. Vem pelejando até agora pra ver se continua. Muita dificuldade, mas a gente vai vendo o que fazer.

Eu comecei com dez anos. E em 2004 eu fui escolhido como Mestre e já era o Boi Pai do Campo da Faceira. O Boi da Faceira tem 20 brincantes. A gente chama é brincantes. Eram 25 mas devido a dificuldade eles foram não querendo mais participar. Agora só tem 20. Tem pouca gente nova que brinca. Eu convido para participar da brincadeira. Mas tem deles que a gente convida e não gosta.

Não gosta de participar, nem prá ir assistir e nem de brincar! Eu acho que quando os mais velhos se forem os novos não vão querer continuar. Prá eles é uma brincadeira fora desse tempo de agora. Eles começam assim meninote mas quando ficam rapazes, 13 / 14 anos deixam, não vem mais.

Tem um filho que brinca o boi, tem um neto que já faz parte do boi. Eu queria que eles continuassem a tradição. Mas eu acho que eles não vão a frente, não! Vão abandonar logo. Quando eu largar eles abandonam também. Enquanto eu for vivo, eu vou segurar a tradição do boi. Agora quando eu não puder mais… Aí ninguém sabe como é que vai ser.

Eu me sinto feliz de manter a tradição até hoje, para passar para os mais novos. É a glória de ter o boi. É um prazer ter aqui e manter.

No nosso boi tem os índios, o doutor, catirina, o brincador de baixo do boi – que a gente chama tripa do boi. E tem o cantador da frente, o tocador do tambor – que sou eu, e os bichos: além do boi, a burrinha, o bode, a ema e o jaraguá. Tem ainda o cordão azul e o encarnado.

A gente tem uma oficina e compra o material para fazer o boi: cano de PVC, papel marchê, cola. Para as roupas tem uma modista e uma costureira que faz. A gente ensina a fazer o boi e a brincar também. Na realidade a gente tem uma associação, não uma associação comunitária. A gente fala em associação porque os brincantes mesmos é quem fazem tudo. Todo mundo ajuda a fazer.

Quando eu fui contemplado prá ser um Mestre da Cultura eu me senti feliz em ser mestre do que a gente gosta, do boi. Prá mim ser mestre é mostrar o que a gente tem. A cultura que a gente tem é essa. É um prazer ser mestre. Eu achei bom também porque agora a gente tem um recursozinho. Não dá prá manter tudo mas a gente vai segurando.

O boi é uma festa cultural aqui na Faceira. A minha alegria é quando o Boi é chamado prá fazer a festa do povo. Festa de final de ano, festa junina, festa que a gente faz. Tem apresentação que é boa. Mas tem apresentação que o público é pouco e dá pouco valor à brincadeira. Mas o grupo vai para a praça quase de ano em ano, na festa do Mestre do Mundo, em Limoeiro, e na festa de município também. Eu sinto felicidade de estar mostrando para o povo o que a gente tem e o que gosta de fazer.