Mestre
04 de maio de 2004
Milagres - Região do Cariri
19 de setembro de 1929
Respeito, seriedade e compromisso são talvez as palavras que melhor definam o Mestre Doca Zacarias. Ele, com quase noventa anos, tem a força de encaminhar os mais jovens para louvar Nossa Senhora do Rosário, Rainha dos Pretos, e não deixar “cair” a congada que herdou de seu pai. Em sua casa, no centro de Milagres, abriga a família, com muitos netos e sobrinhos que logo vestem os trajes. Os vizinhos, acostumados com a movimentação do grupo, enchem a sala e os corredores para ver seu Doca falar e cantar os benditos com sua voz cheia de sons graves e palavras doces para homenagear Nossa Senhora.
Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.
“A congada de Milagres é diferente. Porque não é reisado. É congo.”
Meu nome é Raimundo Zacarias mas sou conhecido por Doca Zacarias. Sou Mestre do Congo, de Milagres. Sou da Cultura e a Congada de Milagres é antiga e eu tenho que cumprir com essa lei da congada. Uma herança que meu pai me deu: os Congo de Nossa Senhora do Rosário. Sou mestre da cultura do estado do Ceará e daqui de Milagres.
A congada é uma tradição antiga que veio desde o tempo dos escravos, no tempo que existia Reis. Quando eu comecei a dançar congo, mais meu pai, eu tinha oito anos de idade. Antes de morreu foi a primeira coisa que ele me pediu: que não deixasse acabar essa tradição antiga, que é os congo de nossa senhora do Rosário. Depois de um ou dois anos que ele morreu eu comecei a ser mestre dos congos. Naquela época eu ser mestre não tinha benefício nenhum. Hoje eu me acho feliz porque a gente tem benefício. Os mestres da cultura do estado do Ceará e, principalmente aqui do Cariri, são bem olhados.
Pra os congo de Milagres não cair e ficar indo pra frente eu tô com o grupo mais novo. Esse grupo novo de hoje é um grupo que é preciso o caba lutar muito pra poder dominar. O grupo todo é da família, aonde eu tenho duas filhas e uma já é mãe, que essa é a mestre que trabalha na frente comigo. E eu tô ensinando esse grupo para no dia que eu desaparecer elas tomar de conta.
Quando é pra fazer apresentação eu chamo atenção, tem os dias do ensaio, explico como é para fazer, e graças a Deus, parece que vai dar tudo certo. Confiado em Deus e em Nossa Senhora do Rosário vai dar tudo certo. E esse Congos de Milagres não vai cair, de jeito nenhum.
Eu digo e repito: sou muito feliz em ser mestre da cultura. Primeiramente eu dou graças a Deus, a Nossa Senhora que me deu força e ao governador Lúcio Alcântara que foi quem me deu o diploma, na cidade do Crato.
Eu torno a repetir: tô muito feliz sendo mestre da cultura, ensinando meu grupo. Quando nós vamos fazer nossa homenagem a Nossa Senhora do Rosário a gente sai daqui de Milagres, e vai pra o Rosário, um distrito aqui de Milagres. Lá no Rosário a chega na capela de Nossa Senhora do Rosário canta música com o grupo, a banda cabaçal tocando, eu dançando na frente e cantando a música antiga: Pretinho de Congo, para onde vai? / Pretinho de Congo, para onde vai? / Vamo pro Rosário para festejar / Vamo pro Rosário para festejar / Festeja pretinho com muita alegria / vamo pro Rosário festejar Maria / vamo pro Rosário festejar Maria.
Pra entrar na capela de Nossa Senhora do Rosário a gente tem o nosso bendito pra adorar nossa senhora. Entra com o grupo cantando o bandito. Entra todos os componentes olhando para o altar e eu entro cantando esse bendito: Meu Deus que luz é aquela?! / Meu Deus que luz é aquela?! Botai-me naquela luz / Me botai-me naquela luz.
E todos respondem: É os Congo do Rosário / Vamos festejar Maria / É os Congo do Rosário / Vamos festejar Jesus.
Essa é a nossa atração e a entrada dos Congo no Rosário, na capela.
Quando a gente chega no pé do altar, eu canto essa: Entremos, entremos num jardim tão cheiroso / Entremos, entremos num jardim tão cheiroso / é do nascimento do nosso redentor / é do nascimento do nosso redentor
Aí nós canta essa música e eu canto novamente: viva Maria, mãe singular / Rainha do céu de Portugá / E o rei da Gulora do marajá / E o rei da Gulora do marajá / Jesus e Santa Maria / Jesus e Santa Maria de bandaruê / não é zombaria / estrela do céu é nossa guia / estrela do céu é nossa guia. Essa é a nossa entrada na capela do rosário quando vamos visitar.
A congada de Milagres é diferente. Porque não é reisado. É congo. É como essas músicas que eu tô cantando aqui. Os congo não tem boi, não tem burrinha, não tem Jaraguá, não tem Mateu, não tem nada. A atração dos congos de Milagres é adorar Nossa Senhora, fazer homenagem a Nossa Senhora, ser chamado para qualquer repartição, fazer nossa apresentação. Eu tenho a apresentação da igreja, também tem apresentação de qualquer canto que a gente chegar.
A minha profissão antigamente era agricultura. Depois que eu peguei o conhecimento, trabalhei na segurança de guarda, trabalhei 35 anos de guarda.
E eu trabalhei 12 anos em Brejo Santo, no IPEC. Depois trabalhei de pedreiro, que essa casa aqui fui eu que fiz. Fui trabalhando e fui começando os congos… Depois fiquei só na congada mesmo. Me aposentei e hoje estou vivendo a minha vida.
Eu acho que a congada me traz uma grande felicidade. Porque quem se pega com Nossa Senhora do Rosário é feliz. Eu sou feliz… com meu grupo de congo. Porque acho conforto, acho muita força e coragem. Eu tenho o maior dos prestígios e todo mundo me dá valor com as autoridades, a população da cidade e de todos os cantos. Aí é onde eu digo que sou feliz. Até hoje eu sou feliz e sei que eu vou ser feliz até o dia que eu desaparecer.
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