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Mestre

Getúlio Colares

Getúlio Colares Pereira

Mestre Sineiro

Publicação no Diário Oficial do Estado

24 de setembro de 2007.

Cidade/Residência

Canindé – Região Norte.

Nascimento

23 de março de 1929.

Falecimento

18 de março de 2021

(recitanto)

Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.

“E não tem outra pessoa sineiro no mundo, reconhecido. Só existe eu! Abaixo de Deus e de São Francisco, só existe eu!”

Meu nome é Getúlio Colares Pereira. Eu nasci lá no sertão. Quando eu vim pra Canindé eu tinha dez anos de idade. Peguei uma doença lá no sertão e a mãe fez uma promessa com São Francisco pra eu me curar e passar quatro anos aqui, trabalhando de graça pra São Francisco. Aí passei os quatro anos, os frades ficaram gostando de mim e fiquei trabalhando por aqui.

O primeiro dia que eu toquei o sino foi na ocasião de uma procissão do Sagrado Coração de Jesus, no dia 29 de julho de 1944. Comecei a tocar o sino nas formas tradicionais do Canindé… vários tempos do sino… várias tocadas, de alegria e de tristeza.

E me aposentei aqui… através do cemitério de São Miguel de Canindé. Trabalhei no cemitério e me aposentei na posição de “septuição“, que é coveiro. As pessoas perguntam quantos eu enterrei. Eu dou a resposta: de adulto – 8397 e criança – 4.734 durante os 27 anos e oito meses que eu trabalhei lá. Ficou essa contagem. Aí fiquei aposentado.

Recebi o diploma de operário-padrão da cidade de Canindé. Fui homenageado duas vezes: 1979 e 1980. Passei a ser Patrimônio Histórico da Basílica de São Francisco e hoje sou Mestre da Cultura Popular do povo do Ceará e do Brasil todinho através da visita de romeiros. Os romeiros ficam apaixonados pelo meu trabalho, adorando a São Francisco e o sineiro. O Brasil todinho. Eu sou o mestre da cultura da função religiosa… os afetos religiosos. Eu me sinto muito feliz porque sou o mestre da cultura da igreja, né?! É uma função religiosa.

Eu recebi esse diploma de Mestre foi das mãos do ex-Governador Cid Gomes.  E o Governador Camilo convidou todos os mestres da cultura para assistir a posse dele. Todos os mestres se reuniram e foram assistir.

Todos os anos nós apresentamos nossos trabalhos em vários lugares. Tem os convites para ir aos passeios dos mestres da cultura no Limoeiro, no Juazeiro do Norte, no Crato quando eu toco o sino e me sinto feliz.

É uma tradição tocar o sino das promessas, das promessas de Cristo. É uma tradição muito linda, bem conhecida do povo de Canindé, dos canindeenses, romeiros, frades, irmãs. E como se diz, fiquei sendo tradicional daqui do povo de Canindé pelo sino da igreja. E não tem outra pessoa sineiro no mundo, reconhecido. Só existe eu! Abaixo de Deus e de São Francisco, só existe eu! E os romeiros ouvem os sinos baterem e ficam felizes.

A safra de romeiro aqui é grande demais. Dia 03 de fevereiro, dia de São Brás, todos os anos tem uma romaria comemorativa, abertura do dia do romeiro. Em agosto começa a chegar os romeiros. Já tamo perto da romaria de São Francisco de Assis. Aí depois vai chegando muito romeiro durante a festa de São Francisco. Depois da festa de São Francisco tem um movimento muito grande, do Rio Grande do Norte, no mês de outubro… No mês de novembro dá muito movimento de romeiro… Mês de dezembro pro natal, né?! Final de ano… Sempre… Não falta romeiro não! Quando é os dias de sábado e domingo, os finais de semana, dá muito romeiro de Fortaleza.

Eu toco o sino também quando tem o perdão de Assis, as Chagas de São Francisco, a festa de Nossa Senhora das Dores, a festa de São Francisco. Depois tem tem o mês do rosário. Tem o dia de finados, depois o natal, entrada de ano novo, dia de São Brás, dia da abertura do romeiro, na quinta feira santa e no domingo de páscoa.

Eu tô ensinando a tocar o sino. Tem o Sacristão-mor aqui e ele bate o sino nos dias que eu estou doente. Bate bem como um todo. E tem um garoto, com serviços prestados aqui na sacristia, que está batendo bem. O garoto tem uma função religiosa através das arrumações e preparações para as santas missas.

Enquanto tiver podendo andar eu continuo a tocar o sino nos dias festivos. Com fé em São Francisco milagroso, dia a dia eu vou tendo mais coragem, mais força e mais saúde. Com amor a esses eventos religiosos que eu estou com eles desde 1944 até hoje.