Mestre
15 de maio de 2018
Fortaleza
24 de maio de 1951
31 de março de 2021
Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.
“A capoeira fala divinamente bem sobre o negro, sobre o que o negro pode fazer.”
Eu me chamo José Renato. Sou Mestre. Mestre da Cultura representando a capoeira no estado do Ceará. Em 1970 eu comecei com essa prática da capoeira, eu já fazia um estudo sobre ela, aqui no Ceará e ao mesmo tempo ensinava educação artística em alguns colégios aqui de Fortaleza.
Eu com idade de 9/10 anos tinha uns primos que gostavam muito de luta, luta marcial, luta de judô de karatê e que gostavam muito de bater em mim porque eu era mais franzino. Eu resolvi que tinha de aprender alguma coisa para eu puder me defender. E surgiu a luta da capoeira. Era diferente. Tinha os saltos, os golpes, a música. E esses meus primos eram muito duros para aprender essas coisas. Já eu, era com muita facilidade que aprendia a fazer os golpes e os movimentos da capoeira. Tanto é que a pessoa que me ensinou disse logo: você nasceu para ser capoeirista. Isso me empolgou. Tive uma afinidade com a capoeira e não tive com as outras coisas. A ginga, a dança, o corpo, o aspecto afro. A capoeira é tudo isso.
A capoeira do Ceará tinha muita semelhança com o que as pessoas faziam lá fora – no Rio, na Bahia e alguns outros lugares. Achavam que o nosso povo cearense tinha tudo a ver com a prática da capoeira, pela forma artística. E foi se formando grupos de capoeira com outras mentalidades. A capoeira, nessa época de 1970 em diante, no Brasil, foi tomando outra dimensão do estudo. E a gente tinha a maneira de expressar a capoeira como uma cultura nordestina pura.
Aqui no Ceará, eu cheguei a formar três tipos de grupos diferentes. Por que três grupos diferentes? Porque eu viajava muito atrás de sabedoria pelo Brasil. E a gente sempre estava mudando de estilo. Então, o primeiro grupo que que nós montamos aqui no Ceará foi o grupo Xangô e depois foi Alma Negra. E deu uma parada exatamente por causa do meu problema de saúde. Mas a gente continua… ainda continua sendo Alma Negra. Quando a gente se reúne para conversar, sempre se fala no último grupo, o grupo Alma Negra.
Eu sabia que o “mundo da capoeira” não era só aqui no nosso estado, era em vários estados. E na época dos anos 70, estava realmente a capoeira se expandindo muito. Em São Paulo, no Rio de janeiro, na Bahia. Aqui mais para o lado do Nordeste, no Maranhão. Era uma capoeira legítima, era pura. Porque naquele tempo cada um fazia jogo diferente e se praticava diferente. O Rio de Janeiro era uma prática, São Paulo era uma prática, Minas Gerais era outra prática. É por isso que ainda hoje em dia a capoeira está quase sem ninguém entendê-la. Porque cada mestre tem uma filosofia diferente. De forma pura só existe algumas. E ainda hoje se discute muito a originalidade da capoeira aqui no Brasil. Ninguém sabe. Onde eu acho que tem a legitimidade chama-se Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão. São capoeiras, que a gente nota que puxa mais a cultura afro.
Uma coisa que as pessoas sempre diziam era que a capoeira tinha tudo a ver com o povo cearense. Por causa das acrobacias. Por conta desse lado circense. O cearense tem esse lado circense muito forte. Não tinha muito negro aqui, mas tem esse lado circense. Uma mistura que trouxe esse aprendizado mais fácil da capoeira. Dessa facilidade que a gente tem de gingar, de saltar. Eu digo isso porque já andei no Brasil inteiro e em outros lugares no exterior onde se pratica a capoeira. A gente salta bem e a gente interpreta bem o papel de capoeirista.
A capoeira fala divinamente bem sobre o negro, sobre o que o negro pode fazer. Sobre essa maneira de apresentar a cultura afro. E por ser um esporte genuinamente brasileiro que puxa do negro e da sua cultura. É uma mistura do folclore, da luta, da dança.
Na minha época, era muito difícil você jogar capoeira porque existia um preconceito terrível. Mas eu sempre fui uma pessoa que eu nunca liguei para esse tipo de coisa, nada me incomodava. Se eu era negro, se não era. Eu gostava era de fazer os movimentos que eu fazia. Então, para mim esse preconceito nunca me incomodou. Eu fui aprendendo e ainda hoje eu vivo aprendendo. Porque a capoeira você passa o resto da vida aprendendo e nunca vai aprender tudo. Ela tem sempre algumas coisas que vai fazer você estudar mais para ter realmente noção do que está fazendo. E eu sempre andei muito porque eu tinha necessidade de aprender mais.
Quando eu fui escolhido Mestre, houve uma celeuma porque eu já tinha tentado três vezes e não tinha conseguido. Exatamente por conta de que a mesa julgadora achava que capoeira não era cultura. Não era cultura como se previa como cultura popular. E foi preciso a gente fazer altos estudos sobre o que que a capoeira representa em matéria de cultura. E foi daí que a gente convenceu a banca julgadora. E como eu era o primeiro do Ceará, aí eu fui escolhido. Mas deu trabalho por conta disso.
Eu concorri porque eu achava que o Ceará merecia ter o Mestre de capoeira escolhido como Mestre de Cultura porque faz parte. A capoeira no Ceará tornou-se cultural porque quase todo bairro tem capoeirista, tem grupo de capoeira. Então ela merecia ter um representante como o Mestre da Cultura. Não era ganância minha ser Mestre da Cultura.
E para ser mestre de capoeira ou da cultura popular você tem que ser realmente um mestre daquele ofício para você se aceitar, mestre. Tem que realmente se sentir forte e destemido. Sentir que aquela representação lhe convém.
E é muito importante ter um representante de cada área, principalmente da capoeira que envolve a nossa cultura brasileira. Por isso que eu acho importante que houvesse essa representação do mestre da cultura como legítimo representante da cultura afro brasileira.
99th Keliling street, Pekanbaru
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