MestrA
04 de maio de 2004
Juazeiro do Norte. Região do Cariri
21 de junho de 1935
Mestra Margarida Guerreira, mesmo com mais de oitenta anos – dizem que na verdade beira os cem, apesar dos documentos desmentirem – tem uma voz firme e uma aparência viçosa. Uma beleza ímpar somada a um temperamento invocado – pudemos comprovar sua força de vontade. Não há como deixar-se de impressionar com o seu porte. Ainda mais trajada de mestra. Ficamos boquiabertos com sua imponência. Ela deve ter sido uma mulher desafiadora em seus tempos de juventude quando criou as Guerreiras de Joana d’Arc, um auto natalino que carrega marcas de reisado, na década de 1950, em Juazeiro do Norte. Hoje, passados mais de seis décadas, Mestra Margarida não tem mais um grupo de Guerreiro. No entanto ela se tornou uma figura legendária da cultura popular do Cariri.
Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Padrinho Ciço, fundador de Juazeiro e protetor do romeiro desse imenso sertão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Frei Damião que era nosso capuchinho, ele está com Jesus Cristo, já cumpriu sua missão / Eu nunca achei um mestre pra dá ni mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado /Eu nunca achei um mestre pra ni dá mim, se já deu já levou fim ou anda no mundo encantado / Tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado / tô preparado pra brincar, brinco bonito / Eu sou o Mestre Expedito e sou um mestre respeitado.
“Eu não quero reisado não, eu quero é guerreiro.”
Sou Maria Margarida da Conceição e sou conhecida como Guerreira.
Eu cheguei em Juazeiro em 40. Minha mãe veio morar aqui. Quando chegamos aqui, a gente começou a brincar reisado e eu me abusei. Não gostei. Eu disse: eu não quero reisado não. Eu quero é guerreiro! Na minha terra se brinca é guerreiro, que eu nasci nas Alagoas.
Então, na Rua Todos os Santos, eu brinquei meu primeiro guerreiro com vinte pessoas, menina e moça . Com o tempo, muita gente brincou. Eu e muita gente. Eu ensinei e pegaram a brincar e, com pouco, não quiseram mais deixar. Então eu tinha a sereia, tinha rainha, tinha a lira, tinha a mercúrio, estrela d’alva, papa-ceia, estrela de ouro, estrela brilhante. De tudo tinha. No ano que eu nem me lembro mais. E eu comecei como mestra logo. Porque eu sabia de muita coisa. E também ensinei muita gente, muita gente.
Ser mestre é quem sabe, é quem o povo gosta. Ser mestre é o pessoal gostar e achar bonita as peças. E hoje o povo é quem diz: a Mestra Margarida! Botaram esse nome e eu aceitei como Mestra. E ainda depois recebi o diploma de mestra no Crato. Eu gostei.
Tem muitos reisados mas nenhum é que nem o guerreiro. O guerreiro é diferente. E eu posso dizer isso por que eu brinquei guerreiro, brinquei reisado. Deixei o reisado pelo guerreiro. Porque o guerreiro pra mim é melhor. Porque, na época, no meu tempo o reisado era uma coisa só de homem. E o guerreiro é de mulher. No Guerreiro, as peças, as músicas….. são diferente. E a gente tem o direito de ser Guerreira! O guerreiro tem as figuras… estrela de ouro, estrela d´álva, papa-ceia, mercúrio e a sereia. E a Rainha e a lira. E a mestre e a contra-mestre. O Guerreiro começa a brincar e sai no dia 24 de dezembro. A gente saía na rua aos pinotes, chegava na Praça Padre Cícero e se apresentava. A brincadeira era lá. Saía com a espada, batendo, danada cantando. E o prazer do povo era cantar. A gente botava as meninas pra cantar, a rainha pra apresentar, a lira pra morrer… Quando eu saía eu ficava muito feliz, era muito legal. No meio de muita gente. Gente pra danado me acompanhava e eu chegava na Praça Padre Cicero. Me achava feliz, com muito prazer da minha brincadeira. Então o povo dava valor e que eu era de fazer?! Cantava! Com muita alegria, dando viva a minha Mãe das Dores e a Padrinho Ciço. Hoje eu não posso mais brincar. Não posso mais fazer o que fazia. Mas o pessoal diz assim: em Juazeiro só tem a Mestre Margarida. De Guerreira!
A Lúcia, minha sobrinha é quem vai ficar com minha tradição. Ela deixou a mãe por causa de mim, por mode o guerreiro. Ela brincou mais eu e aprendeu e disse a mim que ia brincar o reisado e aí botou um reisado e botou um guerreiro. Dança guerreiro e dança reisado.
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