Mestre
04 de Março de 2010.
Juazeiro do Norte (Região do Cariri).
20 de setembro de 1951.
17 de abril de 2018
Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.
“Mestre é nosso senhor Jesus Cristo. Eu sou um peregrino.”
O meu nome… eu me chamo José Maurício dos Santos. Realmente eu sou de Juazeiro. Nasci em Juazeiro do Norte e foi aqui que comecei a brincar reisado. Do reisado foi onde tudo começou. Eu conheci meu mestre Pedro de Almeida no reisado e trabalhei com ele dezoito anos na arte de flandre.
Ele me procurou e perguntou se eu queria aprender e eu disse:
– Eu não quero não! Eu já sei!
– Já sabe como, se eu não dei as dicas pra ti?
– Não carece do senhor me dá dica.
– Ôxe! Só olhando tu já sabe?
– Eu já sei.
Então ele disse: pois vamos trabalhar. Ele botou pra eu trabalhar primeiro em concha de legume. Depois em candieiro, daqueles candieiros chatinhos, que parece uma marmita. Aí eu fiz. Ele então disse: você vai fazer gaita. Eu perguntei: o que é gaita? Ele disse: eu vou fazer uma pra você fazer outra. Ele fez a gaita e eu comecei. Fiz as gaitas. Quando terminou as gaitas, voltei de novo pros candieiros. Aí fui fazer “mini-saia”, uns candieirinhos deste tamanho assim – da metade do meu dedo. Eu fiz duas dúzias de candieiro e o mestre viu que eu era bom e disse: dá pra trabalhar.
Fiz navio. Fiz candieiro. Candieiro mini-saia. Candieiro de pé. Todo tipo de candieiro eu já fiz. Eu peguei o mote do navio em Fortaleza. Fui pra lá só prá pegar o mote do navio. Meus candieiros eu nunca vendi nas romarias. Eu vou nas romarias pra algum conhecimento meu, porque as vezes tem uns conhecimentos que vem nas romarias, sabe?! Vendo mais os candieiros no Centro de Cultura ou então nos visitantes quando vem de fora pegar.
E teve os estandartes. Os estandartes, um alemão chegou e trouxe um modelo, da Alemanha. E perguntou se eu fazia essa peça. Eu respondi. Agora eu não faço não, porque está na sua mão. Mas se me der eu faço. Ele encomendou 12 estandartes. Eu disse: é 12? Pois pra semana o senhor vem pegar. Aí eu tinha sofrido o AVC… deu trabalho… mas eu terminei. E até hoje ainda recebo encomendas dele.
O material que eu uso é o zinco, breu, a solda stein. Uso o fole, as estanhadeiras de soldar. E uso meio mundo de ferramentas. Fazer a minha arte é difícil. É sacrificoso! Tem que lidar com fogo. Queima as mãos… Mas eu gosto de fazer porque eu me interesso. Tem interesse da minha parte. E quanto mais eu faço mais vontade eu tenho. Mas não criei minha família só com a minha arte porque eu tinha muito serviço de carpinteiro, pedreiro. Carpinteiro, pedreiro…
Eu gosto de fazer tudo. Porque se eu for fazer… eu faço tudo. Agora aqui merecia ter um mestre pra trabalhar igual a mim, pra gente fazer a união. Por isso eu não tenho esse negócio de não ensinar a fulano… Eu ensino a todo mundo.
Eu tô com 46 anos trabalhando nessa arte e brincando reisado. São duas profissões que eu só deixo quando eu morrer. E, ainda quando eu morrer, mestre Tarcísio tem de botar uma coroa na minha cabeça e uma espada boa pra eu brincar mais Senhor São Pedro. Eu sei brincar…
Eu entrei no reisado brincando de embaixador. Brinquei, brinquei. Aí o irmão do mestre morreu de uma comida de uma carne de porco. O mestre do reisado disse: você vai ficar no lugar de Chiquinho. Aí eu fiquei brincando no lugar dele, de Mateu. Não fui mais brincar de figura, fui brincar de Mateu. Daí por diante eu fiquei brincando de Mateu. Ele arranjou outro companheiro para mim, chamava Chico Mateu. Nós ficamos brincando, brincando, brincando.
Mestre é nosso senhor Jesus Cristo. Eu sou um peregrino. Filho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando eu passei a mestre, os de fora me reconheceram. Realmente eu fiquei muito alegre porque eu não tinha recebido diploma nenhum daqui. O pessoal daqui não reconheceram, não! Aqui só dá camisa a um quando a que estamos usando está toda rasgada. Aqui ninguém dá camisa a ninguém, não!
Quem fica com minha arte? Quem aprender comigo. Eu tenho meus netos, meus sobrinhos… E só meus netos e meus sobrinhos dava pra formar um oficina. Mas eles não se interessam. Outros mestres que tem aqui, nenhum faz o que eu faço. Nenhum se interessa fazer o que eu faço. Então quando eu morrer…
Pra aprender essa arte só vai com interesse…. Não é só assim, não! Quando eu aprendi a arte com meu mestre, aprendi a trabalhar, mas eu trabalhava pra ele. Eu trabalhava pra ele! Só vim ganhar quando eu aprendi mesmo, foi que eu vim ganhar dinheiro. Mas enquanto não, eu só trabalhava pra ele. E assim eu faço com quem trabalha aqui. Só pago mesmo, no dia que aprender. Mas enquanto não aprender só recebe uma gratificação.
Eu tô parado agora porque está com dois anos que eu não posso… que eu não trabalhei mais. Comecei a chorar porque não trabalhei mais. E eu fiquei totalmente assim… pedindo socorro e atrás de quem se interessasse a aprender a arte, que eu ensinava pra quem quisesse.
Essa arte quem me deu foi meu Padrinho Frei Damião. Eu fiz o candieiro para ele botar em Recife, na igreja dele. Ele abençoou minha arte e só disse uma coisa: não venda dia de domingo.
99th Keliling street, Pekanbaru
62+5200-1500-250
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