logo.png

Mestre

Pedro Balaieiro

Pedro Alves da Silva

Mestre em Artesanato em Cipó Imbé

Publicação no Diário Oficial do Estado

30 de maio de 2006.

Cidade/Residência

Guaramiranga (Distrtito de Pernambuquinho). Região do Maciço de Baurité

Nascimento

26 de dezembro de 1926

Falecimento

07 de julho de 2022

(recitanto)

Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.

“Quando eu tirava meu feixe de cipó eu tinha aquela curiosidade de plantar pra não faltar.”

Meu nome é Pedro Alves da Silva. Nasci no município de Maranguape, numa localidade chamada Rato, lá encostado de Itapebussu. Em 1949 eu vim para Pacoti, passear no sítio Arvoredo. Aí quando foi em 1953 eu já estava cansado de tanto trabalhar de enxada. Baixei a cabeça no açude do roçado… no meu pensamento, eu pedi a Deus que me desse um meio de viver sem ser trabalhando na enxada. Quando eu cheguei em casa, tinha um recado de um senhor que era gerente do sitio Botafogo. Ele mandou me perguntar se eu me atrevia a fazer balaio. No outro dia, eu peguei a foice, tirei o material, comecei a fazer o balaio. Fiz três coisas mais parecidas com um ninho de sabiá de que com balaio. Mas ele chamou a mulher para a testar se servia ou não e eles encomendaram dez milheiros de balaios. Foi meu primeiro serviço. Ele não precisava de dez milheiros, mas bom … foi o pedido dele. Daí por diante, eu comecei a trabalhar mesmo com esse artesanato. Fui fazer uma exposição no Ibirapuera, lá em São Paulo e uma senhora encomendou setenta milheiros de cestos. Foi a segunda loucura de trabalho. E não faltou mais o que eu fazer.

Comecei a ensinar no colégio onde estudava minha filha. O custo das minhas aulas era o custo que eu pagava o colégio. Fui contratado, uma coisa pela outra. Depois me chamaram para eu ensinar no convento, seminário – nesse tempo tinha seminário – em Guaramiranga. Quando dá-se fé chegou uma turma de visitante – eu não sabia quem eram. Na turma estava o Frei Lucas, de Canindé. Ele puxou uma cadeira e perguntou: em quantas horas você faz um chapéu? Respondi: faço em duas horas. Ele botou a cadeira do lado e eu fiz em duas horas e quarenta minutos. Na outra semana ele mandou uma carta pra eu ir ensinar em Canindé. Eu fui. Depois ensinei em Aratuba, em Baturité.Veio um convite para eu ensinar em Goiás. Aí foi bom! Foi minha primeira viagem grande. Outra viagem mais longe foi para o Paraná, na cidade de Toledo. E assim conheci onze estados, puxando pra lá e pra cá! Mas fiquei satisfeito porque tive oportunidade de pisar fora do Brasil: Paraguai e Argentina.

Eu usava a taboca e troquei por outra fibra, porque eu me apaixonei pela raiz de cipó imbé. Eu comecei a trabalhar cobrindo garrafa de cachaça. De empalhar a garrafa da cachaça, que era bem dizer de graça, eu mudei para fazer as cestinhas. Eu fazia minhas cestas e meus balaios e vendia na feira de Pacoti. Quando foi um dia, o sol estava quente e um feirista que tava vendendo umas cestas perto de mim, pegou um balaio e emborcou na cabeça. Aí eu olhei e pensei: não é para ser um balaio, isso é um chapéu. E no outro dia eu comecei a fazer chapéu. Eu vendendo na feira fui convidado pelo gerente do hotel Remanso de Guaramiranga pra vender o meu trabalho lá . Quando eu dei fé, eu saí na revista de turismo. Eu e o Chico Anysio. Aí a coisa melhorou. Melhorou mais ainda quando eu saí na revista Claudia, porque a Central de Artesanato me convidou pra eu levar meu trabalho pra lá.

Aí o pessoal foi me encomendando. Faça uma coisa, faça outra. Cada vez eu fui botando um passo mais à frente. O pessoal e a televisão foram meus verdadeiros professores, nunca chamei ninguém para me ensinar.

Mas a minha vantagem foi grande porque quando eu iniciei, iniciei logo a ensinar, passar aula pra alguém, e plantar o pé da planta… Quando eu fazia meu mói de cipó, eu pegava o pezinho de planta que tava quebrado ou em pé e amarrava em qualquer pé de pau. Quando eu tirava meu feixe de cipó – que é daqui de Guaramiranga, das matas – eu tinha aquela curiosidade de plantar pra não faltar. Fui plantando, fui colocando… Hoje em dia, quando eu termino um curso que o pessoal vem aprender comigo, eu tiro duas horas pra levar a pessoa para a mata – que a mata mais próxima daqui é no Pico Alto – , e em duas horas eu passo a técnica da plantação. Fui expor no Paraná, na cidade de Toledo, gastei só seis horas pra eu reforçar o que eu já sabia de cultivar a fibra. E a pessoa fica mais satisfeita de ter aprendido a plantar de que propriamente a tecer os cestinhos. É muito simples, muito fácil.

E foi melhorando, melhorando.

E eu ter passado pra alguém a técnica que eu tenho foi importante . Eu sou o Mestre da Cultura porque eu passei o trabalho pra alguém . Tô muito satisfeito. É isso que é preciso para a pessoa ser mestre, ela precisa fazer o que eu fiz e tô fazendo…Primeiro, eu passei logo pra os meus filhos. Depois fui mudando. Fui ensinar em vários lugares: Canindé, Aratuba, Baturité. Aí saí pra ensinar fora. Mas hoje em dia eu tô mais pra ensinar a pessoas idosas, que não me perturbam. Porque ensinar hoje a criançada é um precipício.Elas não obedecem. Mas nem todo mundo tem capacidade de ensinar o seu próprio trabalho. Dá aula de arte não é muito fácil não… e não tem um jeito de ensinar. Mas eu adoro ensinar. É só assim que é ser mestre. Se ele não passar pra alguém, é muito difícil ser Mestre.. O ensinamento, repassar pra outra pessoa é muito melhor do que propriamente o dinheiro.

Quando eu recebi o Diploma de Mestre eu senti muita alegria. O título de mestre foi muito importante, pra mim e pra minha família. Foi aí que eu fiquei conhecendo quanto é o valor da arte que a gente tem, para ter chegado a ser mestre da cultura. E ter passado o que eu sei pra alguém não faz falta à gente. Hoje em dia eu falo com toda sinceridade: pra mim é o salário mais abençoado que eu tenho, é o da cultura. É bom!

Eu dou valor ao que eu sou e ao que eu faço. O mais importante para mim é a pessoa vir conhecer o que nós temos aqui na nossa Guaramiranga, um lugar tão pequeno que só tem de grande o nome, e ser mostrado em toda parte… Hoje, meu trabalho está sendo mostrado em toda parte do mundo. A internet é quem está cuidando disso. Eu vou terminar meus dias de vida tecendo, porque eu tenho prazer, tenho amor ao trabalho .