Mestre
4 de maio de 2004
Crato - Região do Cariri.
14 de fevereiro de 1936
15 de outubro de 2020
“Eu estou autorizado / vamos cantar desde já / estava esperando vocês chegarem de lá / fazendo o livro dos mestres da cultura do Ceará. Pedro Bandeira está aqui no bairro Lagoa / chamada Lagoa Seca onde o pássaro ainda voa / a cabeça já tá branca mas a cantoria é boa”.
“Para mim rede não arme / para mim cama não forre / eu quero morrer cantando, benzendo e tomando um porre / morrer em pé estalando como um pé de angico mole / morrer em pé estalando como um pé de angico mole”.
“Enquanto existir os Irmãos Aniceto o folclore não se acaba no nosso Brasil.”
Boa tarde pessoal! Com vocês o Mestre Raimundo, da banda cabaçal dos Irmãos Aniceto. Aqui de Crato. Essa banda foi o meu pai que fundou. Meu pai faleceu com 104 anos, deixou seis filhos, tudo filho do meu pai e filho do Crato. A gente é tudo filho do Crato, nossa raiz é do colégio agrícola do Crato. Daquele torrão maravilhoso. …Seis filhos – tudo músico dessa banda. Essa banda tá remexendo o nosso Brasil, os nossos estados… num é só no nosso Crato, não! Essa banda compõe a roça, essa banda é da cultura. Foi o meu pai que deixou essa letra pra gente. Ele deixou essa banda e uma lapa de enxada pra gente trabalhar na roça.
A cultura hoje a gente tá achando diferente de quando a gente começou. Essa banda foi feita local, toca em renovação, em festa religiosa, da igreja. Essa banda antigamente era local e era difícil um dia na semana pra gente não tocar numa renovação nesse pé de serra. Ainda hoje a gente trabalha nesse setor.
Essa banda nós tivemos em Fortaleza, no Teatro José de Alencar… De lá de Fortaleza nós fomos à primeira viagem ao Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. O meu pai, com cem anos, ainda foi brincar mais nós, no Rio Grande do Sul. Os gaúchos não deixaram meu pai quieto, não! E nem ele pisou no chão. Era nos braços dos gaúchos. Isso foi uma maravilha. Foi uma festa maravilhosa. Daí por diante quando nós chegamos a banda começou a andar.
A gente ja vai andando o Brasil todo com essa bandinha que meu pai deixou dentro do Crato. Aí a gente fica quase orgulhoso de tanta coisa boa que a gente já tem passado. Muito show bonito que nós já fizemos dentro do nosso Cariri e afora do Basil nós já fizemos também, e isso é um prazer.
A banda vem passando de pai pra filho. Já vai na quarta raiz. A banda vai passando de um pra o outro. Mesmo quando morre um, o outro já tá na agulha. E a família é meio comprida. A gente diz no palco que enquanto existir os Irmãos Aniceto o folclore não se acaba no nosso Brasil e nós não deixa não. A família é meio comprida, num é grande não, é comprida, mas tudo é inteligente. Isso é um dom que Nosso Senhor deixou. Que a gente não tem letra, mas a nossa profissão já vem por obra da natureza. Nós temos uma veia que Nosso Senhor deixou. O que nós quiser, nós faz na hora. E ainda tem mais essa: nós não acompanha toque de ninguém. A gente conhece todo o material, toque de Luiz Gonzaga, de Cirano… todo sanfoneiro bom a gente conhece. Mas nós não aponta, não! Só se pedir. Se pedir nós toca, mas tudo é de nossa autoria, tudo é de nossa cultura. E a banda não se acaba, não! Porque enquanto existir o Mestre Raimundo, a banda não se acabe, não!
E quando eu morrer já tem uma banda mirim que já tá no jeito pra continuar nossos trabalhos. É assim: é morrendo um e a outra já tá pronta, já tá no jeito.
A gente com cinco ou seis anos de idade, a gente começou a trabalhar. Meu pai ensinando. Na roça. E a gente foi se criando a família. Foi nascendo uns e nasceram outros… e foi morrendo e nasceram outros. E a gente vem com esse trabalho da cultura. O meu pai era dos índios Cariris. Era um homem que conhecia a cultura e conhecia o Crato, o pé da serra do Crato. A gente foi nascido e criado aqui dentro do Crato. Eu não sou fundador do Crato mas eu conheço o Crato desde 80 anos. O meu pai contava que a praça da Sé eram quatro homens pra derrubar um jatobazeiro. Era uma mata onde hoje é a igreja. Ele contava pra nós. Já hoje tá uma beleza dessa no nosso pé de serra. Mas já foi mata de índio. Eu não conto tudo porque não foi do meu tempo. Eu só conto aquilo que eu vejo.
A música é coisa da roça. A gente tá capinando a roça, como por exemplo, uma bananeira, um sítio de banana, a gente tá capinando. Aí numa folha de banana se cria um marimbonde. Quando o cabra se abaixa, por debaixo, ele pá! Na cara e aí o cabra fica gritando “êh marimbonde da molestia!” Aí vamos dá andamento e fazer uma música com aquele marimbonde. Tem até a caixa do marimbonde, e a gente anda com ela. É bom demais
Quando eu recebi o título de mestre me deu uma alegria que até as pernas tremeu. Eu só não voei de alegre, porque não tinha asa ,.Foi uma alegria que eu tive grande na minha vida que quando disseram: você tá tombado e vai receber um salário do governo. Isso pra mim foi a maior alegria que eu tive. Porque antigamente as coisas era fraquinhas, a gente pra pegar um trocado era um sacrifício. A gente só come quando trabalha. A banda não dá prá nós sobreviver não. É a nossa alegria do corpo, que meu pai deixou essa alegria e nós não quer acabar não.
A importância de ser um mestre é você ser um caboclo alegre e saber receber, saber entrar e saber sair num palco ou em qualquer setor. O camarada com carona não adquire nem sapiranga na beira do rio. É obrigado o cabra ser alegre e saber receber os companheiros e ter a origem que nosso Senhor deixou. Aí é o que é. Pra tocar um pife ou qualquer música num carece de letra não. A gente contém uma letra duma música, de música de metal, porque é muita gente. Mas o dom é quem marca. Porque eu toco em quase todos os instrumentos e não conheço uma letra. Conheço e porque eu mesmo é quem faço, na horinha. Se uma banda de metal toca um dobrado bonito eu toco outro mais bonito do que o dele.
O mestre carece ser uma pessoa de boa vontade, uma pessoa trabalhadora, uma pessoa alegre, que uma pessoa cara de pau não adquire nada no mundo não. Carece ser uma pessoa alegre, saber entrar e saber sair. A cultura e a parte que a gente fez em ser tombado não é moleza, não!
Nós temos a tradição que meu pai deixou, nós tem essa alegria, que já nasceu com ela. Nós morre e não se acaba no nosso Brasil. A banda toca no zabumba e no tarol. Um casal de prato e dois pifes. Um faz a primeira e o outro faz a segunda. Que é pra unir a melodia. Se o primeiro é bom, o segundo ainda é pra ser melhor. O primeiro zabumba que meu pai fez foi aqui no Cariri. O primeiro zabumba foi de cabaças da roça. A gente plantava e nesse tempo chamava de moringa. Era umas cabaças grande que cabia 50 litros de legumes só numa banda. Meu pai cortava de um lado e cortava do outro e fazia os instrumentos de couro de cabra, de couro de tamanduá, couro de veado. E fazia os instrumentos. Hoje tem a origem: banda cabaçal. A origem é nossa, do meu pai que deixou… Isso tá no “Brasil todo e fora do Brasil. Banda cabaçal dos Irmãos Aniceto
Tudo é origem da gente. Já nasce nesse dom. Essa origem a Deus querer não se acaba não. Só se o mundo se acabar de uma vez só: pá pufo! Aí acabou-se com tudo. Mas enquanto não acabar, não se acaba não que nós não deixa se acabar não. Essa alegria nós tem aqui no Crato.
Eu tenho um prazer mais grande do mundo de apresentar muitas coisas como eu já fiz dentro do nosso Brasil que eu já faltei foi voar. Se eu tivesse asa, quando eu era novo, eu voava. Apresentando o que a gente aprendeu.
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