Mestre
4 de março de 2010
Cedro (Sítio Lajedo) – Região Centro Sul
25 de novembro de 1939
30 de novembro de 2022
Pessoal, quando eu morrer /
que vocês forem me enterrar /
num quero ver ninguém chorando /
porque eu não gosto de chorar /
vocês levem um violão /
pra na minha voz cantar /
cante música de reisado que eu gostava de cantar /
Gente, quando eu morrer /
eu não quero choro profundo /
eu quero um boi no meu enterro /
pra eu brincar no outro mundo /
pra eu brinca lá com São Pedro /
que é o chaveiro do mundo.
“Pra fazer uma foice precisa força e coragem. Aguentar a quentura que o cabra leva.”
Meu nome é Francisco Victor de Lima. Conhecido por Netinho em toda a região. Nasci em Mombaça. Vivo aqui no Lajedo, desde 1951, e meus pais eram daqui. Comecei nessa arte de ferreiro em 1965, aqui no Lajedo. Eu fabrico a foice, a roçadeira, chibanca, machado, picareta, armador, recupero as lâminas da Madal, da Patrol. Fabrico um monte de coisa. Fabrico também forrageira. Máquina de desbulhar milho já fiz 25. Eu adoro essa profissão porque pode a gente está sem um tostão de manhã, quando é de tarde, já tem um tostãozinho.
Eu aprendi a ser ferreiro com meu pai. Essa tradição já vem de 1800 e um quebrado, que eu não me lembro bem do ano. Aprendi e fiquei nela. Já vem dos bisavôs.
A primeira peça que eu fiz foi prego de moinho. Antigamente o povo só vivia do moinho. Moía milho, café. Fazia o pão pra comer. E os moinhos desmantelavam. Chegava muito moinho e meu pai dizia que eu consertasse que ele não tinha tempo. E eu aprendi fazendo prego de moinho.
A peça mais difícil de fazer, eu achei que foi uma máquina de desbulhar milho. Pra fazer ela do que jeito que a fábrica fez foi a peça mais difícil que eu achei. Uma forrageira também eu já fiz. Já recuperei muitas coisas. As peças que eu ganhei mais dinheiro foi fazendo e consertando essas máquinas.
Aqui no Lajedo tem 22 oficinas mais ou menos e a gente fez associação para o Governo dá uma ajuda. Era um bocado de sócios, de vinte pra lá. Mas hoje tá quase parada essa associação
Aqui dentro dessa oficina eu ensinei a mais de 50 ferreiros. Tem deles que começou bem novinho, em cima de uma cadeira puxando o fole. Meus irmãos também trabalhavam aqui. Todos eram novinhos quando começaram. Hoje já tão com idade de 50 – 60 anos. Por hora eu estou trabalhando com dois rapazes. É um filho meu e outro rapaz daqui mesmo. Porque as coisas fracou. Não teve mais inverno e acabou-se a metade das coisas que a gente fazia.
Antigamente pra fazer um machado, se fosse para caldear era no fogo com areia. Areia e o fogo. Mexia os dois iguais e emendava. Não era todo ferreiro que trabalhava. Tinha aqueles que sabiam caldear ferro. Emendar ao ferro. Hoje, com a energia, facilitou muito. Tem máquina de solda. Porque se fabrica muita coisa com a máquina de solda. O povo emenda com solda.
Quando eu comecei era com fole. Era puxando o fole e acendendo o fogo e batendo no ferro, fazendo ferro. Para esmerilhar a gente usava uma bicicleta, com as rodas pra cima, e tinha uma cinta que ia para o esmeril e dois puxavam o veio da bicicleta, para esmerilhar os ferros.
Era difícil. Era difícil! Depois apareceu o motor à gasolina. Comprei um. Ainda acabei três motores à gasolina. Depois foi um motor à diesel. Foi nesse tempo, em 1980, que chegou a energia aqui. Hoje é tudo na facilidade. Tudo é fácil.
Tem gente que aprende ligeiro a ser ferreiro e tem outros que morre doido e não aprende. Porque hoje o povo não quer trabalhar mais, nem aprender. Por isso é que é difícil, hoje, fazer um ferro. Pra fazer uma foice precisa força e coragem para aguentar a quentura que o cabra leva.
A peça que vende mais é a foice. Tem a época da foice. A gente tem muita encomenda de foice. E chega a época do machado, depois chega a do enxadeco, pra plantar, e depois chega o tempo da roçadeira, pra tirar capim. Eu não sou agricultor mas se o agricultor não tiver a chuva nós não temos essas encomendas.
Deus mandando bom inverno essa profissão vai durar muito. Para aqueles que tiverem coragem de aprender e trabalhar. Os mais velhos vão se acabando, que nem se acabou meus avôs, meus pais. Hoje está em nossa geração, dos filhos. E os netos… tem uns que não querem mais aprender. Aí é onde tá… A gente não pode dizer que vai durar muito tempo a profissão.
Fiquei feliz demais com o diploma que o Governo me deu. E ainda me disseram: você vai ganhar um salário até chegar o dia de você falecer. Porque eu acho que eles viram que eu ensinei muita gente e trabalhei muito. E esse negócio de ser Mestre, eu achei melhor o reconhecimento. O Governo dá o salário, mas eu achei melhor foi o reconhecimento da família, da população. Hoje eu acho ser um mestre da cultura muito bom.
Ser ferreiro é uma arte boa. Pra mim toda vida foi uma vida boa porque eu sustentei meu filhos, meus netos e hoje até os bisnetos é na cola dos avôs. Fui feliz a vida toda, graças a Deus. Nunca me faltou nada.
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